Introdução
As placas de circuito impresso (PCI) possuem grande importância no âmbito da eletrônica e no processo de desenvolvimento de dispositivos. Apesar de não ser visível para a maioria das pessoas, essas placas estão presentes em praticamente todos os dispositivos eletrônicos, de computadores a geladeiras, carros e smartphones, entre muitos outros.
O desenvolvimento tecnológico e o aumento exponencial na complexidade dos dispositivos eletrônicos visto nos últimos anos, além de ser evidente de que no futuro a tecnologia torne-se ainda mais revolucionária com o uso de novos materiais, além de inteligência artificial que são pesquisados atualmente, fisicamente o processo de produção de circuitos eletrônicos deve ser cada vez mais complexo e preciso.
Toda essa complexidade se traduz em circuitos de difícil confecção e controle de qualidade, sendo cada vez mais difícil determinar com antecedência ou prevenir problemas antes de concluir o processo de produção. Muitas vezes o estudante desperdiça tempo e dinheiro ao trabalhar em placas que contém algum problema decorrente do processo de transferência do diagrama esquemático para a superfície de cobre, mas que não havia sido detectado em uma inspeção manual.
É nesse contexto que este artigo se propõe a trazer uma possível solução para detectar esses problemas. Utilizando uma imagem do circuito impresso e uma imagem do circuito gerada eletronicamente, é possível compará-las através de um programa e automatizar a detecção de erros.
Portanto, antes de iniciar a apresentação do projeto, talvez seja interessante revisar alguns conceitos e processos importantes na confecção de placas de circuito impresso. Vamos iniciar entendendo os métodos de confecção de PCI’s.
Métodos de transferência para PCI’s
Há inúmeras formas de produzir PCI’s. A escolha de qual o melhor método depende geralmente de cada estudante e dos recursos disponíveis.
Primeiro, é preciso projetar o circuito desejado. Para isso há vários softwares pagos e gratuitos disponíveis. Há ainda opções online como CircuitLAB, mas que possuem limitações. Entre os gratuitos mais utilizados está o Pspice e CircuitMaker. Entre os softwares pagos mas também muito utilizados estão Multisim, Proteus e Autodesk Eagle. Estes, além do projeto do PCI, permitem realizar a simulação e indicam possíveis erros.
Portanto, quando se deseja construir circuitos mais elaborados ou com aparência mais profissional, é comum que muitos estudantes utilizem softwares de CAD, pois não é possível ou se torna muito difícil, desenhar as trilhas a mão. Logo, basta escolher um software para projetar o circuito. No final deste processo, é necessário exportar o diagrama esquemático para o formato PDF ou de imagem, afim de que seja possível imprimi-lo. Os softwares costumam oferecer esta opção.
Método de transferência térmica
Com o desenho do circuito feito em software concluído, é necessário imprimi-lo em uma folha de papel de modo que possa ser feita a transferência para a placa de cobre. A impressão deve ser feita em uma impressora a lazer para que os pigmentos de tinta, ao serem aquecidos posteriormente, se desprendam do papel e fiquem presas ao cobre da placa. Também é importante utilizar um papel específico, como papel fotográfico ou couche e imprimir o circuito de forma espelhada ou invertida, para adequada disposição dos componentes quando esta etapa for executada.
Agora, para que se tenha sucesso, é preciso limpar a placa de cobre com esponja de aço e álcool, retirando todas as impurezas e gordura. Feito isso, basta posicionar o papel sobre a placa e predê-lo para que não saia do lugar. Depois, passa-se o ferro de passar roupa em alta temperatura sobre o papel, aquecendo-o e aquecendo a placa.
Esse aquecimento associado a um papel liso, ou seja, em que a tinta (ou toner) possui baixa aderência, faz com que as partículas da tinta se desprendam do papel e fiquem presas à superfície de cobre. Quando o processo estiver concluído, toda a tinta terá sido transferida para a placa e o papel voltará a estar branco.
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Método de transferência por papel fotossensível
Considerado um dos métodos que apresenta o resultado mais satisfatório, o método de transferência por papel fotossensível consiste em fixar as trilhas do circuito em uma superfície de cobre, utilizando tinta com sensibilidade a luz ultravioleta.
Apesar de apresentar resultados muito precisos e com pouca ocorrência de defeitos, este método é mais caro de ser implementado se comparado com o método térmico, pois utiliza materiais específicos e de mais difícil acesso.
Com o diagrama do circuito testado e simulado, é necessário imprimi-lo em uma folha transparente, tomando o cuidado de inverter as cores das trilhas, ou seja, os vãos entre as trilhas serão impressos e esta parte será corroída posteriormente. Desta forma, as trilhas ficam transparentes e o restante preenchido com tinta. Este conjunto funcionará como um filtro para a luz ultravioleta e não é preciso espelhá-lo para dispor os componentes corretamente.
De posse da placa de fenolite, é necessário realizar a limpeza da parte cobreada para remover quaisquer resquícios de gordura, oxidação ou sujeira, pois isso pode prejudicar a qualidade final do trabalho. Feito isso, espalha-se uma fina e uniforme camada de tinta fotossensível sobre o cobre e aguarda-se a secagem.
Com a tinta completamente seca é possível iniciar o processo de transferência do circuito para placa. O primeiro passo é fixar a folha transparente sobre a placa para evitar que ela se desloque. A face da folha transparente que contém o layout deve estar em contato com a superfície coberta de tinta.
Depois, submeta a placa à luz ultravioleta por até dez minutos a fim de fazer com que a tinta desprenda da folha transparente e grude na placa. É preciso tomar cuidado nesta etapa pois parte da luz pode vazar caso a impressão não seja escura o suficiente.
A etapa subsequente é a revelação. Esta etapa consiste em remover a tinta que não foi exposta à luz ultravioleta. Geralmente, utiliza-se soluções químicas como carbonato de potássio (K2CO3) ou carbonato de sódio (Na₂CO₃), também conhecido como revelador ou barrilha, para este procedimento.
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Por fim, é feita a corrosão do cobre que não ficou protegido pela tinta, utilizando um tipo de sal em solução aquosa, geralmente, percloreto de ferro, restando as trilhas do circuito. A remoção da tinta sobre a superfície não corroída pode ser feita utilizando palha de aço.
O que é Gerber?
GERBER é o formato de arquivo padrão da indústria de fabricação de Placas de Circuito Impresso (PCB). Estes arquivos consistem em representar imagens em duas dimensões de camadas de cobre, legenda e dados de perfuração, por exemplo, através de coordenadas. A extensão do arquivo é gbr.
Segundo o site Ucamco, o Gerber é
Conhecido como “a espinha dorsal da indústria de fabricação de eletrônicos”, todos os sistemas de projeto de PCB geram o Gerber, permitindo que os profissionais de PCB troquem dados de projeto de PCB de forma segura e eficiente.
https://www.ucamco.com/en/gerber
(Obs.: traduzido livremente do inglês)
Além disso, o Gerber é baseado no formato de texto ASCII de 7 bits, com letras, números e alguns caracteres especiais. Um arquivo Gerber contém a descrição completa de uma imagem de camada de PCB sem a necessidade de arquivos externos. Tem todos os operadores de imagem necessários para uma imagem PCB.
![](https://visiorob.com.br/wp-content/uploads/2019/05/gerber-traces-and-pads.png)
Quando criado, sua utilização auxiliou na compatibilização entre arquivos de softwares CAD que criam arquivos Gerber, que, por sua vez, é a linguagem usada pelas máquinas.
Em 2013 foi introduzido um novo padrão de arquivos Gerber, o X2 ou RS-274X. Nesse novo padrão, todos os comandos da versão antiga (X1 ou RS-274D) permanecem inalterados – ambos permanecem totalmente compatíveis em se tratando de desenhos básicos e linhas simples – e são adicionados quatro novos comandos para anexar atributos a um arquivo Gerber.
De fato, essa nova versão veio para evitar problemas que fabricantes de PCB passavam com a primeira versão do arquivo. Na versão X1, era necessário gerar dois arquivos distintos para cada camada do projeto de PCB: uma para as coordenadas e outra descrevendo o circuito. O segundo arquivo ajudava o técnico na fábrica a entender o circuito e evitar erros na montagem.
Com a chegada da nova versão, todos os atributos passaram a ser gerados no mesmo arquivo, evitando, assim, erros e desperdício de tempo, além de facilitar o trabalho da máquina ao necessitar trabalhar somente com um arquivo (e não dois). Mesmo assim, a geração de imagens vetoriais entre os formatos Gerber é totalmente compatível: um leitor compatível com Gerber X1 lerá um arquivo Gerber X2 e gerará a imagem correta. O contrário também é verdadeiro.
Ao longo dos anos, houve várias tentativas de substituir o Gerber por formatos que continham mais informações do que apenas a imagem da camada, por exemplo, netlist ou informações sobre componentes. Nenhuma dessas tentativas foi amplamente aceita na indústria de fabricação de eletrônicos, provavelmente porque os formatos são complexos. Gerber continua a ser o formato de transferência de dados mais utilizado.
Estrutura do Arquivo e Principais Comandos
Um arquivo Gerber é formado por um conjunto de comandos. Esses comandos criam um fluxo de objetos gráficos que são colocados no plano da imagem para criar a imagem final. Por ser do tipo vetorial 2D binário, a imagem é formada por pontos que podem assumir apenas dois valores distintos, tipicamente, preto ou branco.
As instruções mais comuns são:
- Parâmetros de Configuração
- Definições de Macro e Abertura
- Comandos de desenho
- Coordenadas X e Y para os recursos
Tanto os Comandos de Desenho quanto as Coordenadas são comuns aos dois tipos de arquivo Gerber. No entanto, a nova versão também permite a definição de algumas opções importantes como blocos de dados reutilizáveis chamados aberturas e macros. Na versão anterior, os dados de aberturas eram colocados em um arquivo separado, enquanto na nova versão, todas as larguras de forma e linha do bloco são construídas em um arquivo único.
Os parâmetros de configuração controlam várias coisas no processo de renderização, incluindo se a geometria deve ser considerada branca desenhada em preto ou preta desenhada em branco. Inclusive, é possível definir a função que o arquivo terá: se será a descrição da camada de solda ou da camada de cobre, por exemplo.
As aberturas definem a espessura dos traços, tamanho e forma dos objetos. Macros definem formas complexas como logotipo, letras e outras geometrias especiais que aparecem em um desenho. As macros também suportam regras complexas de composição e até alguns parâmetros paramétricos, como retângulos rotacionados ou com cantos arredondados.
Os Comandos de Desenho são basicamente quatro:
- Segmentos de linhas retas: geralmente representam as trilhas de cobre na placa, por onde se deseja que a corrente flua entre dois ou mais componentes.
- Arcos: tem a mesma função que as linhas, porém são circulares.
- Flashes: são replicações de um mesmo objeto, como terminações de uma linha em determinada coordenada.
- Regiões: são áreas definidas por seu contorno, como segmentos de linha reta ou circulares conectados.
As coordenadas são os pontos onde os recursos serão colocados, como início e fim de uma linha ou arco, delimitação de uma região, etc. Nos atributos é possível definir se as coordenadas serão dadas em milímetros ou polegadas.
Referências
- Gerando Arquivos Gerber e Furação Altium Designer – Luiz Marcelo A. Victor – https://www.griffuspcb.com.br/files/GERANDO-ARQUIVOS-GERBER-E-FURACAO-ALTIUM-DESIGNER.pdf – Acesso em 18 de Abril de 2019.
- CircuitPeople – Introduction to Gerber Files – https://circuitpeople.com/Blog/WhatIsAGerberFile.aspx – Acesso em 18 de Abril de 2019.
- Ucamco – Gerber Format – https://www.ucamco.com/en/gerber – Acesso em 20 de Abril de 2019.
- Gerber Format Wikipedia –
https://en.wikipedia.org/wiki/Gerber_format#Guide – Acesso em 23 de Abril de 2019. - ArtWork – What’s all this about RS274X Anyway –
https://www.artwork.com/gerber/274x/rs274x.htm – Acesso em 30 de Abril de 2019. - The Gerber Format Specification, developed by Ucamco –
https://www.ucamco.com/files/downloads/file/81/the_gerber_file_format_specification.pdf – Acesso em 09 de Maio de 2019. - CircuitLAB – https://www.circuitlab.com/ – Acesso em 18 de Junho de 2019.
- Pspice – http://www.electronics-lab.com/downloads/circutedesignsimulation/?page=5 – Acesso em 18 de junho de 2019.
- CircuitMaker – https://circuitmaker.com/ – Acesso em 18 de Junto de 2019.
- Multisim – http://www.ni.com/pt-br/shop/electronic-test-instrumentation/application-software-for-electronic-test-and-instrumentation-category/what-is-multisim.html – Acesso em 18 de junho de 2019.
- Proteus – https://www.labcenter.com/downloads/ – Acesso em 18 de Junho de 2019.
- Autodesk Eagle – https://www.autodesk.com.br/products/eagle/overview – Acesso em 18 de Junho de 2019.
- Killer PCB – https://www.instructables.com/Killer-PCBs/ – Acesso em 08 de Junho de 2022.
- Prototipagem de placas de circuito impresso por método térmico e fotossensível – https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5481716/mod_resource/content/1/Relatorio_Lab_projetos_ver2.pdf – Acesso em 07 de Junho de 2022.
- Confeccionando PCB´s com tinta fotossensível – https://portal.vidadesilicio.com.br/confeccionando-de-placas-de-circuito-impresso-com-tinta-fotossensivel/ – Acesso em 07 de Junho de 2022.
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